Nunca Minta, de Freida McFadden

Por Lucia Helena Sten Schneider

Uma casa, dois recém-casados e um segredo que você não está preparado para descobrir

Prepare-se para trancar as portas e questionar a confiabilidade até do seu reflexo no espelho. Em Nunca Minta, Freida McFadden brinca com nossos instintos mais primitivos: confiança, medo e aquela vozinha no fundo da cabeça que diz “tem algo errado aqui”. E spoiler (mentira, sem spoiler!): tem mesmo.

O livro começa com Tricia e Ethan, um casal recém-casado em plena fase de lua de mel, prestes a conhecer a casa dos sonhos, uma mansão afastada, imponente, gelada (em todos os sentidos) e envolta por uma nevasca que os isola do mundo. O clima? Literalmente congelante.

A premissa parece simples, quase romântica… até não ser mais. O que eles encontram lá, e, principalmente, o que não encontram, nos arrasta para uma atmosfera densa, onde o passado insiste em deixar marcas em cada cômodo empoeirado.

Freida McFadden acerta em cheio ao dosar tensão psicológica com narrativa viciante. Seus capítulos curtos, quase como confissões fragmentadas, nos deixam com aquela síndrome deliciosa de “só mais um capítulo”. E de repente, você está de madrugada, olhos arregalados, lendo com a luz do celular, achando que ouviu um barulho em casa.

As perspectivas entre o presente e o passado, vão montando o quebra-cabeça com precisão quase cirúrgica, enquanto o leitor tenta, desesperadamente, adivinhar qual peça falta. Ou melhor, qual peça foi escondida de propósito. 

“Quem está dizendo a verdade? E quem está só… evitando contar tudo?” Eis a grande provocação de McFadden, e ela faz isso com um toque quase cruel.

Temos a casa como personagem (e que personagem!), cheia de sinais de uma vida interrompida: livros, móveis caros, roupas penduradas, e, é claro, um passado que insiste em não ficar quieto. E é aí que entra Adrienne Hale, uma psiquiatra de sucesso, autora de um best-seller chamado “A Anatomia do Medo”, cuja presença paira como um fantasma sobre cada cômodo e página.

Ao alternar entre o ponto de vista de Tricia e os registros de Adrienne, a autora cria um jogo psicológico deliciosamente perverso. Você começa a desconfiar de tudo: das palavras, das intenções, dos silêncios. E quando acha que entendeu quem está mentindo… bem, você provavelmente caiu direitinho na armadilha da McFadden. Porque ela sabe: todo mundo mente. (Inclusive você, quando diz “só mais um capítulo”.)

Mas Nunca Minta não vive só de truques e reviravoltas, ele entrega reflexões sutis sobre relacionamentos, controle, manipulação emocional e o perigo de confiar cegamente em quem nos sorri bonito. Tudo isso envolto num suspense ágil, sem enrolações, com uma linguagem acessível e personagens que parecem ter vida própria — o que é ótimo, até você começar a duvidar das intenções deles também.

Claro, o livro se permite alguns clichês do gênero (a casa remota, o casal apaixonado demais, a vizinhança zero…), mas tudo é dosado de um jeito tão natural que, no fim, esses elementos se tornam parte da diversão. E cá entre nós: você vai amar se perder nesse emaranhado de pistas verdadeiras e falsas.

No fim das contas, Nunca Minta não é só um suspense, é um convite para desconfiar, observar, e perceber o quanto podemos ser enganados por boas aparências, inclusive as nossas.

Leitura recomendada para quem adora um thriller psicológico com pegada de série da Netflix e final que vira seu cérebro do avesso.

Depois desse livro, você vai pensar duas vezes antes de visitar uma casa isolada com o GPS fora de área.

E um aviso: quando terminar, você vai querer conversar com alguém sobre esse final. Sério. Talvez até precise.

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