O medo e a Ternura

Por Suyanne Oliveira

O livro infantojuvenil O Medo e a Ternura, de Pedro Bandeira, narra a história de Esmeralda, uma jovem de origem simples que, aos 15 anos, já precisava contribuir com a criação de seus irmãos. Certo dia, um episódio de quase atropelamento muda drasticamente o rumo de sua vida — mas será que para melhor?

Esmeralda é confundida com a filha de um milionário e se torna vítima de um sequestro planejado por três criminosos, que a mantêm presa nas ruínas de uma igreja abandonada. Nesse local, ela é vigiada por uma figura horrenda — uma criatura deformada e silenciosa conhecida como Bicho Preto.

Enquanto os sequestradores aguardam o pagamento incerto de seu resgate, Esmeralda enfrenta dias marcados por violência, angústia e desespero, temendo que sua família — e especialmente Greg, seu primeiro amor — jamais descubram seu paradeiro.

Durante o cativeiro, ela é vigiada por essa figura horrenda conhecida como Bicho Preto — um ser humano deformado, silencioso e assustador. É notável como Pedro Bandeira começa a construir a dualidade entre o medo e a ternura, eixo emocional da narrativa. Inicialmente, a figura do Bicho Preto representa o terror absoluto para Esmeralda: um ser de aparência monstruosa, envolto em mistério, cuja imagem está diretamente associada à ameaça. Ele se torna, assim, a personificação do medo.

Entretanto, com o desenrolar da trama, Esmeralda rompe o véu do preconceito e começa a enxergar além da aparência. Aos poucos, ela identifica gestos sutis de compaixão, humanidade, proteção silenciosa e inocência em Bicho Preto, cujo verdadeiro nome é Querubim. Ela percebe que ele não é o monstro que imaginava, mas sim um ser ferido pela vida, excluído pela sociedade e usado pelos sequestradores devido à sua ingenuidade. Ele era o anjo que tanto pediu a Deus.

Em suma, essa mudança de perspectiva revela o eixo emocional da obra: o contraste decisivo ocorre quando Querubim sacrifica sua vida para salvá-la, demonstrando coragem e lealdade, mesmo sem jamais ter sido compreendido ou aceito pela sociedade. Assim, ele pôde, enfim, descansar nos braços da ternura.

Esta releitura adolescente da obra francesa O Corcunda de Notre Dame traz uma reflexão sobre o poder das emoções e das relações humanas.

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